[Especial] Vida Política - O Diário do Leitor

12/07/2015

[Especial] Vida Política

Além de interferir na moda, culinária, Frida Kahlo influenciou também por causa de sua vida política, motivo pelo qual conheceu e amou Diego Rivera.

Para mostrar um pouco mais disso, encontramos um grande estudo no blog Marcha Mundial das Mulheres e recortamos alguns dos trechos que julgamos mais importantes. Espero que gostem!

Conhecer o interesse político e social de Magdalena Carmen Frida Kahlo y Calderon Rivera ou simplesmente, Frida Kahlo, não é uma tarefa árdua. A artista, ao longo de sua vida, registrou inúmeras vezes seus sentimentos, preocupações sociais e convicções políticas, seja em suas pinturas, em seu diário, ou ainda, em suas cartas. Além disso, há diversos relatos de sua participação em ligas clandestinas, como a Liga Jovem Comunista, em manifestações nas ruas e em reuniões do Partido Comunista Mexicano.



Uma primeira evidência das suas ideias políticas é sua opção pelo ano de nascimento. A artista nasceu em 06 de julho de 1907 em Coyoacán, Cidade do México. No entanto, em seu diário, afirma ter nascido em 1910, ano em que a Revolução Mexicana eclode: “1910. – Naci em el cuarto de la esquina entre Londres y Allende Coyoacán. A la uma de la mañana”. Segundo Herrera, “uma vez que era filha da década revolucionária, (…) Frida decidiu que ela e o México moderno haviam nascido no mesmo ano”.

A Revolução foi um movimento popular, sobretudo anti–latifundiário e anti-imperalista. Emiliano Zapata e Pancho Villa são conhecidos como dois líderes camponeses importantes da revolta. Para Carlos Fuentes a Revolução foi também um êxito cultural, ao impulsionar a arte mexicana, baseada especialmente nas raízes indígenas: “Fue La revelación de México por México”. E tanto Frida Kahlo como Diego Rivera, frutos do momento histórico, aderiram a esse momento cultural da década de 20 que tomou conta do país.

Na Escola Nacional Preparatória, ao ingressar em 1922, irá encontrar “o ambiente propício para desenvolver aquilo que de certa forma já estava latente desde a sua infância. O empenho pela causa social e a crença no comunismo parecia estar no seu sangue, correr em suas veias. A artista mexicana parecia buscar ou ser conduzida para contextos onde a questão política era o cerne”.

No entanto, em 1925 se afasta da Escola após o acidente com o bonde que comprometeu sua saúde pelo resto de sua vida. Em 1927, já recuperada, reencontra suas/seus conhecidas/os e o círculo de amigas/os envolvidas/os com a política é ampliado: o líder estudantil Germán de Campos, o exilado comunista cubano Julio Antonio Mella e a fotógrafa ítalo-americana e também comunista Tina Madotti. A proximidade com Tina será muito rápida, e logo as duas tornam-se amigas leais. Frida então passa a frequentar as reuniões e festas semanais que a fotógrafa organizava em sua própria casa, reunindo diversos artistas, especialmente as/os comunistas.

Em 1928, filia-se ao Partido Comunista, época em que também conheceu o famoso muralista mexicano Diego Rivera. A pintura, a preocupação social e a participação no partido eram também pontos comuns entre os dois. Apaixonados, casam-se em agosto de 1929. O pintor, no entanto não foi o único amor de Frida. Ao longo de sua vida, a artista teve diversos relacionamentos tanto com homens quanto com mulheres, consequentes dos seus círculos políticos e artísticos. Entre suas relações afetivas conhecidas, destaca-se com o então colega da Preparatória e líder estudantil Alejandro Gómez Arias, o líder comunista russo Leon Trotski, a cantora mexicana Chavela Vargas e o fotógrafo Nickolas Muray.

Durante os primeiros anos da década de 1930, Frida Kahlo acompanhou Diego Rivera nos Estados Unidos. Seu recém-marido havia sido convidado para a pintura de diversos murais em São Francisco. Ao dar notícias para suas/seus amigas/os, Frida expressava nas suas cartas seu desgosto pelos “gringos”, certamente por conta do seu sentimento anti-imperialista.

Outro aspecto da vida de Frida a ser destacado foi suas percepções do movimento artístico e literário surrealismo, ao ser considerada pelo próprio André Breton uma “surrealista autocriada”. A pintora mexicana aproxima-se do movimento e em 1939 expõe na capital francesa, após convite de Breton. Suas pinturas são seguramente elogiadas por nomes como o de Pablo Picasso. Apesar do sucesso da exposição e dos seus divertimentos pela cidade, Frida não se sentiu a vontade em Paris, detestando especialmente a postura vazia das/os artistas locais.

O contexto político também contribuía para Frida detestar o lugar. Com a derrota legalista na Guerra Civil Espanhola, a mexicana acompanhou o sofrimento de refúgio dos espanhóis. A falta de acolhimento da França deixava Kahlo ainda mais intrigada: “Estou enojada com toda essa gente podre da Europa – todas essas bostas de democracias não valem nada”. Sua indignação a levou a articular com a ajuda de Diego, a ida de quatrocentos refugiados para o México.

Apesar do contato direto com o movimento, Frida não se intitulava uma surrealista. Para Herrera, Frida foi uma descoberta surrealista e não uma artista surrealista. Em 1952, em carta a Antonio Rodriguez, a artista esclareceu mais sobre essa questão:

Alguns críticos tentaram me classificar como surrealista; mas eu não me considero surrealista. (…) Eu realmente não sei se meus quadros são surrealistas ou não, mas sei que são a expressão mais sincera de mim mesma. (…) Eu detesto o surrealismo. Pra mim, parece uma manifestação decadente de arte burguesa. (…) Eu quero ser digna, com a pintura, do povo a que pertenço e das ideais que me fortalecem. (…) Eu quero que minha obra seja uma contribuição para a luta das pessoas em seu esforço pela paz e a liberdade. 

Possivelmente “a obra mais surrealista de Frida seja o diário que ela manteve de meados de 1944 até sua morte”, através de seus desenhos, montagens de objetos, cores e palavras espalhadas. Em seu diário é também perceptível sua maior compreensão e dedicação ao marxismo. Várias são suas manifestações de apoio e crença no horizonte comunista seja em escritos, seja em pequenas pinturas. 


As manifestações de Frida Kahlo a favor do comunismo em seu diário coincidem também com seu interesse em expressar o marxismo em suas pinturas. É em 1940, segundo Herrera, que Frida irá “ressaltar o conteúdo social na arte”. Anos mais tarde, em 1951, fez uma espécie de autocrítica de suas pinturas: “Tengo mucha inquietud en el asunto de mi pintura. Sobre todo por transformarla para que sea algo útil al Movimiento revolucionario comunista […] la única razón real para vivir.”.

Em 1952, Frida, na tentativa de politizar suas pinturas do gênero naturaleza muerta, reconhece que: “Por primera vez, en mi vida la pintura mia trata de ayudar a la línea trazada por el partido. Realismo Revolucionario”. Dois anos depois pinta uma das suas obras mais famosas, El marxismo dará salud a los enfermos, em que manifesta “la necessidade de confiar em un ideal político, em vista de La ineficacia de la medicina moderna”, como aponta Sarah M. Lovre.


Dias antes de falecer, Frida Kahlo, já tomada pela pneumonia que agravava ainda mais seu estado de saúde, participou de um ato contra a deposição, patrocinada pela CIA, do presidente esquerdista Jacob Àrben, da Guatemala. Na cadeira de rodas, a pintora carregava em suas mãos uma placa com o desenho da pomba e o escrito “Por La Paz”. Gritava também junto aos 10 mil mexicanas/os presentes: “Gringos asesinos, fuera!”. Sua última aparição pública em dia 2 de julho de 1954.

O envolvimento com Partido Comunista, a influência do marxismo em suas obras e a crítica ao modo de vida americano e europeu são apenas alguns dos aspectos da vida da artista que demonstram sua vida regada da dimensão política. Há uma infinidade de tantas outras questões que necessitam ser conhecidas e aprofundadas: seu passado de raízes indígenas e as inúmeras vezes que expressou sua ligação com seus antepassados, a cultura pré–colombiano e o povo mexicano; sua quebra no padrão burguês estético da época através de suas obras, seu corpo e o vestido tehuana, usado e assumido na grande parte da sua vida; suas pinturas do gêneronaturaleza muerta transformadas em naturalezas vivas; sua ajuda às vítimas do nazismo e da guerra civil espanhola; sua caminhada docente ao acreditar numa educação baseada no conhecimento dos saberes das pessoas e na justiça social.


Seu potencial criativo é também relevado em sua participação no mundo político. Frida Kahlo expôs suas convicções políticas e quebras de padrões através de uma linguagem irônica e de uma estética de cores e formas presentes nas suas pinturas e no seu vestuário. Expressões de contestação marcadas pela subjetividade, irreverência e autenticidade.


O conjunto de todos esses aspectos, somado às suas outras manifestações, especialmente artísticas, tornaram Kahlo uma mulher e artista singular. Uma experiência de incômodo e ruptura frente aos modelos tradicionais de feminilidade e ao sistema econômico hegemônico. Que sua memória de inspiração e libertação a todas/os nós cesse as narrativas sobre sua vida construídas pelos interesses patriarcais–capitalistas. Por uma Frida Kahlo protagonista, criativa, política, autêntica e desobediente!



3 comentários:

  1. Achei bem interessante a intervenção e o interesse dela pela política, não tenho muito conhecimento com política, mas achei legal o envolvimento dela e em uma época que as mulheres não era muito ouvidas, adorei conhecer um pouco mais da história e da grande mulher que ela foi.

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  2. Ela realmente foi uma grande mulher, e achei interessante ela ter se envolvido na politica, principalmente porque naquela epoca isso não era coisa de mulher

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  3. Sempre existirá aquelas que tiveram uma ideia, um sonho e lutaram por seus sonhos e objetivos, muito legal saber sobre esta relação dela com a politica.Imagina isso naquela epoca? Realmente um exemplo de coragem!

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