10/01/2015 - 11/01/2015 - O Diário do Leitor

31/10/2015

[Informativo] Lançamento de Zé do Caixão - Maldito, a Biografia


O livro sagrado do Cinema de Terror nacional, segundo seu maior profeta

Ele veio ao mundo numa sexta-feira 13, em março de 1936. Quase oitenta anos depois, José Mojica Marins construiu um legado artístico incomparável em nosso país e se consagrou como um dos grande mestres do Terror mundial. O público conhece sua voz gutural, as infindáveis garras que ele chama de unhas, sua barba cerrada e suas roupas, incluindo capa e cartola, sempre escuras como a noite. Mas até que ponto o Brasil reconhece toda genialidade do homem por trás do mito?

Em Zé do Caixão – Maldito, a Biografia, os jornalistas André Barcinski e Ivan Finotti desenterram todos os segredos do passado de José Mojica, da infância humilde nos subúrbios de São Paulo até sua consagração internacional.

Um dos cineastas mais produtivos do Brasil, Mojica escreveu, dirigiu, produziu e atuou em mais de trinta filmes, como os clássicos À Meia Noite Roubarei Sua Alma, Esta Noite Encarnarei No Teu Cadáver e O Despertar da Besta. Mojica aprendeu a fazer cinema sozinho, na marra, usando os recursos disponíveis e formando seus próprios técnicos e atores. Como resultado, o mundo ganhou um artista genuinamente brasileiro, que jamais precisou copiar fórmulas estrangeiras.

A biografia, publicada originalmente em 1998, estava há muito tempo fora de catálogo. Uma heresia que a DarkSide Books não poderia perdoar. Muitas sextas-feiras 13 depois, Zé Do Caixão – Maldito, a Biografia está sendo relançada pela DarkSide, numa edição à altura do genial diretor – e também padrinho da editora. Com 666 páginas (200 a mais que a antiga versão), o livro conta com muitas fotos inéditas, filmografia atualizada e acabamento luxuoso em capa dura.

Um verdadeiro documento para amantes do cinema e do terror.


André Barcinski é jornalista, crítico, escritor e diretor de cinema e TV. Ganhou o prêmio Jabuti de melhor livro de não-ficção por Barulho – uma viagem ao underground do rock americano (1992). Produziu o programa O Estranho Mundo de Zé do Caixão, no Canal Brasil. É corroteirista da minissérie Zé do Caixão, com Matheus Natchergaele, adaptação do seu livro Zé do Caixão – Maldito, a Biografia.

Ivan Finotti nasceu em São Paulo em 1970. Trabalhou nos jornais Notícias Populares, O Estado de S. Paulo, Diário de S. Paulo e revista SuperInteressante. Na Folha de S. Paulo foi repórter cultural e editor das revistas sãopaulo e Serafina e do caderno Folhateen, no qual ganhou, em 2008, o prêmio Esso de Criação Gráfica. Em 2001, dividiu com André Barcinski premiação no Festival de Sundance pela direção do documentário Maldito, baseado neste livro. Atualmente é editor da Ilustrada.


Ficha Técnica
Título | Zé do Caixão – Maldito, a Biografia
Autor | André Barcinski e Ivan Finotti
Editora | DarkSide®
Edição | 2ª
Idioma | Português
Especificações | 666 páginas, capa dura, edição de luxo e Limited
Dimensões | 16 x 23 cm
ISBN | 978-85-66636-78-9
Lançamento | Novembro de 2015

Preço | R$ 99,90



30/10/2015

A literatura contra o efêmero

A literatura contra o efêmero - (publicado em 02/18/2001) UMBERTO ECO 


Para que serve a literatura?

Eu poderia dizer que ela não serve para nada, mas uma visão tão crua do prazer literário corre o risco de igualar a literatura ao jogging ou às palavras cruzadas

Os grandes livros contribuíram para formar o mundo. A "Divina Comédia", de Dante, por exemplo, foi fundamental para a criação da língua e da nação italianas. Certos personagens e situações literárias oferecem liberdade na interpretação dos textos, outros se mostram imutáveis e nos ensinam a aceitar o destino.

Reza a lenda, e "se non è vera, è ben trovata", que certa vez Stálin perguntou quantas divisões tinha o papa. O que ocorreu nas décadas seguintes provou que, sem dúvida, as divisões são importantes em determinadas situações, mas não são tudo. Existem poderes imateriais cujo peso não se pode medir, mas que ainda assim pesam.

Estamos rodeados de poderes imateriais, que não se restringem aos chamados valores espirituais, como os das doutrinas religiosas. Também é um poder imaterial o das raízes quadradas, cuja rígida lei resiste aos séculos e aos decretos, não só de Stálin, mas do próprio papa. E entre esses poderes eu incluiria também o da tradição literária, isto é, do complexo de textos que a humanidade produziu e produz, não com fins práticos, mas "gratia sui", por amor a si mesma, e que são lidos por prazer, elevação espiritual ou para ampliar os conhecimentos.

É verdade que os objetos literários são imateriais em parte, pois geralmente encarnam em veículos de papel. Mas houve um tempo em que eles encarnavam na voz de quem recordava uma tradição oral, ou entalhados em pedra, e hoje estamos discutindo o futuro dos e-books.

Mas para que serve esse bem imaterial, a literatura? Eu poderia responder, como já fiz noutras vezes, dizendo que ela é um bem que se consuma "gratia sui" e que portanto não serve para nada. Mas uma visão tão crua do prazer literário corre o risco de igualar a literatura ao jogging ou às palavras cruzadas, que, além do mais, também servem para alguma coisa, seja manter o corpo saudável, seja enriquecer o léxico.

Do que estou tentando falar é, portanto, da série de funções que a literatura tem na nossa vida individual e social.

A literatura mantém a língua em exercício e, sobretudo, a mantém como patrimônio coletivo. A língua, por definição, vai para onde ela quer, nenhum decreto superior, nem político nem acadêmico, pode interromper seu caminho nem desviá-lo para situações que se pretendem ótimas. A língua vai para onde quer, mas é sensível às sugestões da literatura. Sem Dante não teria existido um italiano unificado. Dante, em "De Vulgari Eloquentia", analisa e condena os vários dialetos italianos, propondo-se a forjar uma nova língua vulgar ilustrada.

Ninguém apostaria nada nesse gesto de soberba, mas, com a "Comédia", Dante ganhou o desafio. É verdade que vários séculos tiveram de passar para que o vulgar dantesco se tornasse uma língua falada por todos, e só o conseguiu porque a comunidade dos que acreditavam na literatura continuou a se inspirar naquele modelo. Sem esse modelo, talvez nem sequer tivesse vingado a idéia de uma unidade política.

Mas a prática literária também mantém em exercício nossa língua individual. Hoje muitos lamentam o surgimento de uma linguagem neotelegráfica que se impõe por meio do correio eletrônico e das mensagens nos celulares, em que até para dizer "te amo" se usa uma sigla. Mas não esqueçamos que os jovens que trocam mensagens utilizando essa nova taquigrafia são, ao menos em parte, os mesmos que se apinham nas novas catedrais do livro, as megalivrarias, onde, mesmo que só folheando sem comprar, eles têm contato com estilos cultos e elaborados, aos quais não foram expostos nem seus pais nem seus avós.

A leitura das obras literárias obriga a um exercício de fidelidade e de respeito dentro da liberdade de interpretação. Há uma perigosa heresia crítica, típica dos dias de hoje, segundo a qual é possível fazer qualquer coisa com uma obra literária. Não é verdade. As obras literárias convidam à liberdade de interpretação porque propõem um discurso com muitos planos de leitura, defrontando-nos com a ambiguidade da linguagem e da vida. Mas, para poder intervir nesse jogo, em que cada geração lê as obras literárias de um modo diferente, é preciso ter profundo respeito por aquilo que chamo a intenção do texto.

No final do capítulo 35 de "O Vermelho e o Negro", diz-se que Julien Sorel vai à igreja e atira contra Madame de Rênal. Tendo observado que o braço do protagonista tremia, Stendhal diz que Julien dá um primeiro tiro, mas erra o alvo, depois dá um segundo, e a senhora cai. É possível sustentar que o tremor de seu braço, acrescido do fato de errar o primeiro tiro, indicam que Julien não foi à igreja com um firme propósito homicida, mas antes movido por um confuso impulso passional. A essa interpretação é possível contrapor outra: que Julien tinha desde o início a intenção de matar, mas era um covarde. A partitura autoriza ambas as interpretações.

Alguém também pode perguntar onde foi parar a primeira bala, o que é uma boa dúvida para os devotos stendhalianos. Assim como os devotos de Joyce vão a Dublin para procurar a farmácia onde Bloom teria comprado um sabonete em forma de limão, podemos imaginar devotos stendhalianos tentando descobrir em que lugar do mundo fica Verrières e sua igreja, esquadrinhando todas as colunas do templo em busca do buraco daquela bala. Seria um episódio de fanatismo bastante divertido. Mas suponhamos agora que um crítico pretenda basear toda sua interpretação do romance no destino da tal bala perdida. Nos tempos que correm, isso não é inverossímil, até porque houve quem baseasse toda a sua leitura de "A Carta Roubada", de Poe, na posição da carta em relação à lareira. Mas, se para Poe a posição da carta é explicitamente pertinente, Stendhal diz que nunca se soube mais nada daquela primeira bala, excluindo-a assim do conjunto de entidades fictícias.

Sendo fiel ao texto stendhaliano, essa bala se perdeu definitivamente, e onde ela foi parar é irrelevante do ponto de vista narrativo. Por outro lado, o que se cala em "Armance" sobre a possível impotência do protagonista incita o leitor a tecer frenéticas hipóteses para completar aquilo que o relato não diz, ao passo que, em "Os Noivos", de Alessandro Manzoni, uma frase como "a desventurada respondeu" não diz até que ponto Gertrude levou seu pecado com Egidio, mas o halo escuro de hipóteses induzidas ao leitor aumenta o fascínio dessa página tão pudicamente elíptica.

Para muitos, essas coisas poderão parecer obviedades, mas tais obviedades (muitas vezes esquecidas) confirmam o mundo da literatura como inspirador da fé na existência de certas proposições que não podem ser postas em dúvida, com o que ele oferece um modelo de verdade, ainda que imaginário.

Migração

Podemos fazer afirmações verdadeiras sobre personagens literários porque o que lhes acontece está registrado em um texto, e um texto é como uma partitura musical. É verdade que Anna Karenina se suicida, assim como é verdade que a "Quinta Sinfonia" de Beethoven foi escrita em dó menor (e não em fá maior, como a "Sexta") e se inicia com "sol, sol, sol, mi bemol". Mas certos personagens literários, não todos, acabam saindo do texto em que nasceram e migrando para uma região do universo muito difícil de delimitar.

Foram emigrando de texto em texto (e, por meio de várias adaptações, de livro para filme ou balé, ou da tradição oral para o livro) tanto personagens dos mitos como da narrativa "leiga": Ulisses, Jasão, o rei Artur ou Percival, Alice, Pinóquio, D'Artagnan. Mas, quando falamos de personagens desse tipo, referimo-nos a uma determinada partitura? Vejamos o caso de Chapeuzinho Vermelho. As duas versões mais célebres, a de Perrault e a dos irmãos Grimm, têm profundas diferenças. Na primeira, a menina é devorada pelo lobo, a história termina aí, inspirando portanto severas reflexões moralistas sobre os riscos da imprudência. Na segunda, aparece o caçador, que mata o lobo e devolve a vida à garota e à avó. Final feliz.

Pois bem, imaginemos uma mãe que conte a história para seus filhos e a encerre com o lobo devorando Chapeuzinho. As crianças protestariam e pediriam a "verdadeira" história, aquela em que Chapeuzinho ressuscita, e de nada valeria a mãe declarar ser uma filóloga estritamente ciosa das fontes literárias. As crianças conhecem uma história "verdadeira" em que Chapeuzinho de fato ressuscita, e essa história é mais afim à versão dos Grimm que à de Perrault.

Esses personagens se tornaram coletivamente verdadeiros, de certo modo, porque ao longo dos séculos a comunidade fez um investimento afetivo neles. Fazemos investimentos afetivos individuais em muitas fantasias que criamos nos nossos devaneios. Podemos realmente nos comover pensando na morte de uma pessoa amada, ou ter sensações físicas ao imaginar um contato erótico com essa pessoa. De modo semelhante, por meio de um processo de identificação ou de projeção, podemos nos comover com a sorte de Emma Bovary ou, como ocorreu com algumas gerações, sermos levados ao suicídio pelos sofrimentos de Werther ou de Jacopo Ortis. Mas, se alguém nos perguntasse se de fato morreu a pessoa cuja morte imaginamos, responderíamos que não, que foi apenas uma fantasia privadíssima. Contudo, se nos perguntassem se realmente Werther se matou, responderíamos que sim, e essa fantasia não é mais privada, mas uma realidade cultural com que toda a comunidade de leitores concorda. Tanto que julgaríamos louco quem se suicidasse por ter imaginado a morte da amada (sabendo que se trata de fruto de sua imaginação), ao passo que tentaríamos de algum modo justificar a atitude de quem se matasse por causa do suicídio de Werther, mesmo sabendo que se trata de um personagem fictício.

Teríamos então de encontrar a região do universo em que esses personagens vivem e determinam nosso comportamento, tanto que os tomamos como modelo de vida, própria e alheia, e entendemos muito bem quando se diz que alguém sofre de complexo de Édipo, tem uma fome de Pantagruel, um comportamento quixotesco, os ciúmes de um Otelo, uma dúvida hamletiana ou é um don Juan incorrigível.

Contudo hoje há quem diga que também os personagens literários correm o risco de se tornar fugazes, mutáveis, inconstantes, de perder aquela fixidez que nos impedia negar seu destino. Entramos na era do hipertexto, e o hipertexto eletrônico nos permite não apenas viajar dentro de um novelo textual (seja uma enciclopédia inteira ou a obra completa de Shakespeare) sem necessariamente ter de "desenrolar" toda a informação que ele contém, penetrando-o como uma agulha de tricô num novelo de lã. Graças ao hipertexto, nasceu também a prática de uma escritura inventiva livre. Na Internet há programas para escrever histórias em grupo, em que os participantes tecem narrações cujos rumos podem ser modificados até o infinito.

Pensem no seguinte: vocês leram "Guerra e Paz" com paixão, se perguntando se Natasha por fim cederia às lisonjas de Anatol, se o maravilhoso príncipe Andrea realmente morreria, se Pierre teria coragem de atirar em Napoleão, e agora vocês podem refazer seu Tolstói, dando a Andrea uma vida longa e feliz, transformando Pierre no libertador da Europa. E, muito mais, vocês podem reconciliar Emma Bovary, agora mãe feliz e pacificada, com seu pobre Charles; fazer Chapeuzinho Vermelho entrar no bosque e encontrar Pinóquio ou então ser raptada pela madrasta e obrigada a trabalhar com o nome de Cinderela para Scarlett O'Hara, ou então encontrar no bosque um mágico chamado Vladimir Propp, que lhe dá um anel encantado graças ao qual ela descobrirá, ao pé da bananeira sagrada dos tugues, o Aleph, aquele ponto de onde se vê todo o universo. E Anna Karenina não morrerá esmagada nos trilhos porque, sob o governo de Putin, os trens russos de bitola estreita funcionam pior do que os submarinos, enquanto longe, muito longe, além do espelho de Alice, Jorge Luis Borges lembra a Funes, o memorioso, que não se esqueça de devolver "Guerra e Paz" à biblioteca de Babel.

Seria isso errado? Não, porque também a literatura já o fez, e antes dos hipertextos, com o projeto de "Le Livre", de Mallarmé, os cadáveres "exquis" dos surrealistas, os milhões de poemas de Queneau, os livros móveis da segunda vanguarda.

Iuri Lotman, em "Cultura e Explosão", retoma a famosa recomendação de Tchecov segundo a qual, se no início de uma narração ou de um drama se mostra um fuzil pendurado na parede, antes do fim esse fuzil deverá disparar. Lotman dá a entender que o verdadeiro problema é se o fuzil realmente disparará. É justamente o fato de não saber se o fuzil disparará ou não que confere significância ao enredo. Ler uma história também é ser capturado por uma tensão, por um espasmo. Saber se no final o fuzil disparou ou deixou de disparar não tem o simples valor de uma notícia.

É a descoberta de que as coisas aconteceram, e para sempre, de certo modo, à margem do desejo do leitor. O leitor deve aceitar essa frustração e, por meio dela, sentir o tremor ante o Destino. Se pudéssemos decidir o destino dos personagens, seria como ir ao balcão de uma agência de viagens: "Então, onde o senhor quer encontrar a Baleia, em Samoa ou nas Aleutas? E quando? Deseja matá-la o senhor mesmo ou deixa o serviço para Queequeg?". A verdadeira lição de "Moby Dick" é que a baleia vai para onde ela quer.

Pelos olhos de Deus

Pensem na descrição que Hugo faz da batalha de Waterloo em "Os Miseráveis". Diferentemente de Stendhal, que descreve a batalha pelos olhos de Fabrizio, que está dentro dela e não entende o que está acontecendo, Hugo a descreve pelos olhos de Deus, vê a cena do alto: sabe que, se Napoleão soubesse que além da crista do Mont Saint-Jean havia um precipício (o que seu guia omitira), os couraceiros de Milhaud não teriam sucumbido aos pés do exército inglês; que, se o pastorzinho que guiava Bülow tivesse sugerido outro percurso, a esquadra prussiana não teria chegado a tempo de decidir a sorte da batalha.

Numa estrutura hipertextual, poderíamos reescrever a batalha de Waterloo fazendo com que os franceses de Grouchy chegassem antes dos alemães de Blücher, e já existem divertidos jogos de guerra que nos permitem fazer isso. Mas a trágica grandeza daquelas páginas de Hugo reside no fato de (à margem do nosso desejo) as coisas acontecerem como acontecem. A beleza de "Guerra e Paz" está em que a agonia do príncipe Andrea termine com a morte, por mais que essa morte nos desagrade.

A dolorosa maravilha que cada releitura de um grande clássico nos proporciona se deve a que seus heróis, que poderiam fugir de um fim atroz, por debilidade ou por cegueira, não entendem contra o que se debatem e se precipitam no abismo que cavaram com os próprios pés. Por outro lado, Hugo disse, depois de mostrar as oportunidades que Napoleão poderia ter aproveitado: "Era possível que Napoleão ganhasse essa batalha? A resposta é não. Por quê? Por causa de Wellington? Por causa de Blücher? Não. Por causa de Deus".

É isso o que dizem todas as grandes histórias, sendo possível, em todo caso, substituir Deus pelo destino ou pelas leis inexoráveis da vida. A função das narrativas imodificáveis é justamente essa: contrariando nosso desejo de mudar o destino, nos fazem experimentar a impossibilidade de mudá-lo. E assim, que seja a história que elas contem, contarão também a nossa, e é por isso que as lemos e as amamos. Necessitamos de sua severa lição "repressiva". A narrativa hipertextual pode educar para o exercício da criatividade e da liberdade. Isso é bom, mas não é tudo. As histórias "já feitas" nos ensinam também a morrer. Creio que essa educação para o fado e para a morte é uma das principais funções da literatura. Talvez existam outras, mas agora me escapam.

Umberto Eco é escritor e semiólogo italiano, autor de, entre outros, "A Ilha do Dia Anterior" e "O Pêndulo de Foucault", ambos da Record. O texto acima é uma versão de um discurso do autor sobre as funções da literatura.

Tradução de Sergio Molina.

29/10/2015

[Informativo] Book trailer: Amor Imortal

Olá leitores! 
Novidade que acabou de sair do forno, o book trailer do lançamento Amor Imortal da editora Novo Conceito, ele será um das minhas leituras do feriado da próxima semana, gostei muito do trailer, confiram.



28/10/2015

[Resenha] Encontrando-me

Encontrando-me
Autora: Cora Carmack
Editora: Novo Conceito
Número de Páginas: 288
Sinopse: A maioria das pessoas adoraria passar meses viajando pela Europa após concluir a faculdade – sem responsabilidades, sem pais e sem limites no cartão de crédito. Kelsey Summers não é exceção. Ela está no melhor momento de sua vida, pelo menos é o que continua a dizer a si mesma. Tentar descobrir quem realmente você é pode ser um negócio complicado, especialmente quando se está com medo de não gostar do que vai descobrir. Bebidas e festas não são suficientes para afastar a solidão de Kelsey, mas talvez Hunt possa ajudá-la. Depois de alguns encontros casuais, eles embarcam em uma aventura pelo continente. A cada nova cidade, uma experiência. A mente de Kelsey torna-se um pouco mais clara e cada vez mais seu coração deixa de pertencer somente a ela. Hunt a ajuda a desvendar seus próprios sonhos e desejos. No entanto, quanto mais ela aprende sobre si mesma, mais percebe o quão pouco sabe sobre Hunt.

E finalmente chegou ao fim mais uma trilogia que eu achei deliciosa de ler. Claro que os livros anteriores não foram os meus favoritos, mas poder ter contato com enredos tão simples e rápidos foi maravilhoso, especialmente depois de grandes leituras densas, pesadas.

Cora Carmack soube desenvolver muitíssimo bem a história dos três melhores amigos, Bliss, Cade e, agora, Kelsey. Dentre os três, acho que a mais humana foi realmente a última. E essa foi uma bela jogada de marketing: deixar o melhor para o final.


Em Encontrando-me podemos acompanhar a saga de Kelsey em um “mochilão” pela Europa. Depois de se formar na faculdade de Artes Cênicas, ela resolve partir em busca do inesperado, do novo. É claro que ela não deixou o cartão de crédito dos pais para trás e os usa sempre que necessário, mas abdicou do conforto e dorme em albergues. Na realidade, ela queria apenas ficar perto de pessoas, queria apenas viver uma grande aventura, antes de voltar à dura vida real.
“Aventuras não acontecem se você estiver preocupado com o futuro ou apegado ao passado. Elas só existem no presente. E elas sempre, sempre surgem na hora mais inesperada e da forma mais improvável. Uma aventura é uma janela aberta, e um aventureiro é a pessoa disposta a rastejar pelo peitoril e saltar.”

Regada a bebidas, baladas e um “amor” por dia, ela vai passando pelas cidades e países. Fez amigos em Budapeste, mas de longe aquilo podia ser chamado de amizade. Bêbada e beijando um homem que não chamava sua atenção, ela dá de cara com um homem desconhecido, encarando-a e rindo. Nada mais poderia dar errado. A menos que ele fosse sedutor, bonito e com pinta de que fazia parte do exército. Desvencilhando-se do beijo, ela mal podia imaginar que a vida dela e daquele que a admirava estariam predestinadas a se cruzar por muitas e muitas vezes.

Mais tarde, naquela mesma noite, depois de colocar tudo para fora (literalmente) nas ruas de Budapeste, descobre que ele se chama Hunt. Claro que este não é seu verdadeiro nome, mas aos poucos ela percebe o porque. Ele tinha olhos de caçador, assim como a tradução de seu “nome” – caça.

Ao lado dele ela se sente em casa, palavra que há muito ela não sabia o verdadeiro significado. Vinda de uma família completamente desestruturada e marcada por um fato chocante, Kelsey buscava um lar.
“Claro que o tiro poderia sair pela culatra de várias formas, e provavelmente contra mim mesma. Mas, se fosse preciso estraçalhar meu coração como confete, Hunt com certeza era um bom motivo para isso.”

Mas será que é nos braços de Hunt que ela o encontrará? Será que ela mostrará seu verdadeiro eu para o mundo?

Conforme disse anteriormente, este foi o meu favorito. A história foi a mais humana, com um tema mais recorrente, mesmo que infelizmente (quem leu vai entender, rs).

Cora consegue conquistar qualquer um que pegue seus livros através de uma narrativa viciante.

Mesmo afirmando que Kelsey era uma mimadinha quando aparecia nos dois livros anteriores, agora pude entender que, na realidade, dinheiro nenhum poderia comprar as coisas que ela mais queria: liberdade, amor, “sua alma inteira de volta”. Claro que a todo momento eu achei que Hunt era algum tipo de assassino, mas com o passar do tempo, e intrincada na história da jovem, até me esqueci do jeito estranho com o qual se conheceram. E é óbvio que a reta final me surpreendeu mais do que esperava.

A editora caprichou muito nas capas, e esse tom de verde ficou maravilhoso. O padrão entre elas deixa a estante muito mais bonita, também. A diagramação interna foi mantida, bem simples. Tamanho da fonte um pouco pequena, mas ainda assim boa para leitura.

Com certeza a trilogia Losing It não poderia ter um final tão perfeito quanto este. Fechou com chave de ouro as histórias de três grandes amigos que, acima de tudo, são humanos, e tem que conviver com todas suas limitações e anseios.
“A alma era algo que eu não conseguia mudar. Eu podia escondê-la com maquiagem. Podia me distrair com festas, homens e viagens. Mas não se pode fugir de quem se é... não para sempre.”


Mais uma vez, parabéns à Editora Novo Conceito! Espero ver outros livros da Cora publicados por vocês!

27/10/2015

[Resenha] Diário de um Zumbi do Minecraft - Volume 2

Diário de um Zumbi do Minecraft
Parceiros e Rivais
Autor: Herobrine Books
Editora: Sextante
Número de Páginas: 112
Sinopse: A vida de um zumbi no ensino fundamental não é nada fácil. Seu zumbi de Minecraft favorito está de volta! (Falando sério: vai dizer que você conhecia outros?) Se você achava que o Ender Dragon e os golens de ferro eram perigosos, não imagina como é o dia a dia na Escola Monstro. Principalmente quando Mike Magma, o valentão da escola, une forças com Mutante, o aluno novo de 2 metros de altura com o peito do tamanho de uma casa. Nosso amigo zumbi será capaz de deter os valentões? E se conseguir, vai continuar inteiro para contar a história? Junte-se ao nosso herói, sua namorada, Sally Cadáver, e seus amigos Esquely, Slimey e Creepy para a derradeira batalha de suas vidas... uma partida de Queimado!

Quando li e resenhei o primeiro volume de Diário de um Zumbi do Minecraft, Um desafio assustador, não sabia ao certo se queria prosseguir acompanhando a série. Mas ao ver a capa de Parceiros e Rivais, não pensei duas vezes e acabei solicitando-o. E posso dizer que gostei bem mais deste do que do anterior.

No segundo volume da série que tem como base os gráficos do Minecraft, acompanhamos mais um pouco da vida de um zumbi que está no ensino fundamental. É nesta fase da vida que tudo fica crítico. E é também onde começam os grandes problemas e as grandes responsabilidades.

Narrado em primeira pessoa, vemos que mesmo sendo um zumbi, ele não tem paz. Mutante, o novo aluno da escola, chegou e, em uma partida de Queimado, já começa a colocar as asinhas para fora. Acabado, ele perde o jogo e sua dignidade. O bullying é apenas um passo. Mas será que quem pratica também não sofre algo parecido e acaba tentando aliviar seu lado, descontando nos outros?

Paralelamente, a amizade dele com um jovem humano, Steve, vai proporcionar aos leitores momentos de muita diversão, através dos jogos com a temática zumbi que ele empresta a um próprio ser.

- Um coelho assassino comeu minha lição de casa!

Através de uma linguagem bem acessível às crianças, Herobrine Books mostra aos leitores que além de um livro divertido, momentos sérios e que são abordados sempre também tem lugar nas leituras dos pequenos, como a verdadeira amizade, o bullying e o que se deve fazer quando passa por algum caso do tipo.

A edição continua um luxo, com capa dura, papel amareladinho (e com aquele cheiro gostoso <3 ), além de uma diagramação interna característica dos livros da série. A capa manteve o padrão do volume anterior e mostra para nós o protagonista e narrador do diário. Espero que a terceira obra da série me conquiste tanto quanto este! 

26/10/2015

[RESENHA] 100 Dias na Ilha

100 Dias na Ilha
Autor: Victor Gonçalves 
Editora: Novo Século
Número de páginas: 158
Sinopse: Após uma desilusão amorosa, Vicente viaja para os EUA em busca de respostas a questões interiores. Ao lado de Robert, seu host em Nova York, Clara, sua nova amiga venezuelana, e envolvido em alguns casos amorosos, o jovem brasileiro reflete sobre sua vida, suas novas convicções e torna-se adulto após 100 dias na ilha de Manhattan.Com narrativa leve e honesta, evidenciando aspectos contemporâneos de um jovem da geração X, a história trata de temas como a busca por mudanças, livre-arbítrio, amizade, homossexualidade e religião, sem o uso de clichês ou estereótipos.

100 Dias na Ilha é um daqueles livro que escolhemos aleatoriamente, e que não temos nenhuma expectativa ou muita curiosidade. Foi o que aconteceu quando optei por ele. Não cheguei a ler a sinopse, inclusive, tamanha era a baixa expectativa, mas de um modo muito positivo acabei sendo surpreendida.

Sorte a minha de não ter lido a sinopse, pois a ideia central da história já está ali, escancarada, para que todos que peguem o livro já tenham uma possível ideia formada de como será a leitura.

Conhecemos o jovem Vicente que, após o término do relacionamento conturbado, decide trilhar novos caminhos, em busca de novos ares, de se encontrar com ele mesmo. O lugar escolhido é Nova York, onde ele encontrará liberdade, onde irá aperfeiçoar o inglês e, quem sabe, fazer novos amigos, refletir sobre si e seus últimos dias no Brasil.

O primeiro amigo que faz é Robert, um senhor com seus 50 e poucos anos de idade, que é dono da casa onde Vicente ficará hospedado. Seu novo amigo é misterioso e chega a ser chato por muitas vezes. Sarcástico e bastante religioso, conversa pouco, mas recebeu seu hospede com bastante simpatia.

Outro contato feito é com Clara, uma venezuelana que estuda na mesma agência de Vicente, o que fez com que os dois se aproximassem ainda mais e se tornarem amigos. Ambos foram para a Ilha com os mesmos objetivos: mudança, liberdade e novos ares, deixando para trás relacionamentos que fizeram eles sofrer. Porém cada um teve um caminho chegando lá.

Clara acabou indo com muita sede ao porte - digamos assim. A beleza e a liberdade encontrada na nova cidade acabou levando ela por caminhos obscuros, onde acabou fazendo amizades nada boas. Nosso protagonista, em contrapartida, por ser mais tranquilo, acabou conhecendo aos poucos a cidade e fazendo amizades de forma mais naturais, aproveitando o que há de melhor nesse novo caminho pela frente.

O livro é bem rápido, mas sua construção é feita de tal forma que nem notamos as poucas páginas. Os protagonistas vão amadurecendo aos poucos, de forma notável, desde as falas até suas vestimentas.

Um livro que aborda diversos assuntos atuais, como amizade, religião, relacionamentos e homossexualismo. 

Foi uma experiência agradável. Não encontrei erros de revisão, o trabalho gráfico é impecável e a capa está de acordo com a história.


Indico a todos que querem algo diferente, mais leve para ler.

25/10/2015

[Resenha] Segredos

Segredos
Autora: Tatiana Amaral
Editora: Ler Editorial
Número de Páginas: 378
Sinopse: “Senti-me fraca com as palavras dela. Por um instante me arrependi de ter cavado esta história. Algumas vezes é melhor deixar as coisas como elas estão. Eu aprendi isso naquele momento. Porque eu sabia que independente do que ela fosse revelar, eu já estava destinada a ter que abandonar Thomas.” . O que você faria se tivesse que revelar segredos que envolvem o seu passado e a impedem de se entregar a um amor? Este é o dilema de Cathy, que precisa decidir entre quebrar as barreiras do passado e confiar em Thomas ou aceitar que seus segredos são fortes o suficiente para impedi-la de amá-lo. Quando um segredo é capaz de destruir tudo o que você deseja, ele pode ser revelado? Thomas possui um segredo com este poder, e agora ele precisa escolher entre contar a Cathy e correr o risco de perdê-la ou não contar, e desta forma nunca conquistar a sua confiança. Que segredos são fortes o suficiente para impedir um amor? Cathy e Thomas viverão esta história e terão que enfrentar os seus segredos para tornar este amor possível, mas é possível um amor resistir a segredos?

Cathy é uma jovem de 23 anos em busca de um novo emprego. Ela tem uma  oportunidade única em suas mãos, que irá alavancar sua carreira. Ela apenas teria que cuidar da agenda e de alguns outros quesitos. Mas para quem trabalharia? Para Thomas, um dos atores mais famosos da atualidade. Um verdadeiro mulherengo, colecionador de belas mulheres.

Thomas tem 25 anos, rico, lindo e o tipo de homem que tem todas as mulheres aos seus pés (e em sua cama) em questões de segundos.

“Eu tinha que tirar estes pensamentos também da minha cabeça, ele agora era meu chefe e afinal de contas ‘onde se ganha o pão, não se come a carne’, como já dizia a minha sábia amiga Anna Moore.”

Através de sua excelência e trabalho digno, Cathy consegue o emprego e luta para não se deixar levar por toda a beleza e as investidas de Thomas.

“Foi involuntário. Meus olhos correram todo o seu corpo. Fiquei maravilhada com tamanha perfeição.”

Com o passar do tempo, o fogo da paixão consumia os dois, mesmo que lentamente. Cathy estava tentando não perder o controle da situação, mas Thomas vinha cada vez mais alimentando as faíscas que saíam dos dois, toda hora em que se viam.

“Nunca senti o que eu senti com ele por mais ninguém. Aos 23 anos eu estava perdendo o controle da minha mente e o que era pior, do meu corpo.”

Thomas sentia que estava nutrindo em seu interior o mesmo sentimento que Cathy sentia por ele.

“Poderia não ser para sempre, mas seria especial. Cathy tinha me mudado de tantas formas. Muitas vezes, eu percebi que não era mais a mesma pessoa, que não pensava nem agia mais da mesma forma. Não sabia o que era, mas eu queria que assim fosse.”

Mas acima de tudo, segredos rondavam a vida dos dois. Talvez esse fosse o empecilho para que o amor não aflorasse? Cathy cederia aos encantos de Thomas e, juntos, construiriam uma linda história de amor?

Só posso dizer que caso queiram ter certezas acerca das perguntas deixadas no ar, leiam o livro. Tatiana soube, através da escrita em primeira pessoa de maneira alternada (ora a visão de Cathy, ora a de Thomas), descrever os altos e baixos de um relacionamento baseado em segredos, escândalos, fama, passados sombrios, o verdadeiro e puro amor.

Publicado primeiramente pela editora Baraúna, o livro migrou de casa editorial e é publicado agora pela editora Ler. O segundo volume está previsto para ser lançado em breve e terá como título “Traições”. Estou curiosa pra saber como vai se desenrolar esta história, por vezes cômica e, por outras, dramática, como todo e bom romance.

Confesso que na maior parte das vezes queria matar Cathy e socorrer Thomas para meus braços.

A diagramação é simples, folhas amareladas e sem erros de revisão. Os que haviam na primeira edição foram corrigidos. Eu achei a história lindíssima e, de fato, creio que sua leitura foi um recorde: 1 dia e meio para ler mais de 300 páginas. Devorei cada palavra, cada sentimento, cada detalhe! Parabéns Tati, seu filhote é perfeito!




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