Totalmente
diferente de Pauliceia desvairada,
encontramos em Contos novos o que o
título nos sugere: contos (ah vá, Pamela, é mesmo?). E confesso que agora me
sentia segura em ler algo que eu já estou acostumada, pois trabalho com
diversos textos do gênero em sala de aula.
Desta
vez não contamos com uma introdução, pois como temos explicado na sinopse, este
é um livro publicado postumamente, depois do falecimento de Mário de Andrade. Ainda
acho que caberia ao editor explicar um pouco mais do processo criativo aqui
encontrado, bem como esse detalhe que é apenas citado rapidamente na sinopse,
convenhamos.
De
cara somos apresentados ao melhor conto, em minha singela opinião. Vestida de Preto conta a história
amorosa de Juca. Tudo isso começou com uma paixonite que durou dos seus três
aos cinco anos, sendo substituído por um romance que abalou suas estruturas.
Maria era uma prima distante, mas que frequentava sua casa com certa
regularidade. Até os nove anos, ele achava que ela era apaixonada por ele. Ledo
engano.
O
conto seguinte é O Ladrão e confesso
que foi um dos mais confusos assim que terminei a primeira vez de lê-lo. Claro
que precisei de uma segunda leitura, muito mais atenta, para tentar desvendar o
que Mário de Andrade quisera dispor ali nas pouco mais de cinco folhas. Depois
de todos os moradores de uma vila acordarem com os gritos de “pega, ladrão!” e
mesmo sem tê-lo visto, a madrugada toma um rumo totalmente diferente, pois
estão todos em pânico frente o perigo iminente. No final das contas, ninguém
sabe dizer se houve realmente um ladrão
À
continuidade nos deparamos com um Primeiro
de Maio totalmente diferente. Enquanto a maior parte da cidade se dá um dia
de folga, por ser um feriado para os trabalhadores do país, o 35 teria de
trabalhar, carregando as malas dos que precisassem na Estação da Luz. Mas é
claro que ele não desperdiçaria um dia tão belo enfurnado naquele lugar e
decide, mais que de pronto, ir atrás de algum movimento, algo diferente, que
estivesse ligado ao feriado tão importante. Não é isso o que encontra pelo
caminho.
Atrás da Catedral de Ruão
foi um dos contos que mais me desagradou pelo simples fato de termos diversas
expressões em francês, quase que em todas as páginas, tendo que recorrer às
notas de rodapé toda hora para entender o que as personagens Mademoiselle, uma
francesa virgem de quarenta e três anos e suas duas alunas, Alba e Lúcia,
respectivamente com quinze e dezesseis anos. Elas usam o francês para falar sobre
sexo com enorme frequência. Um dia, elas contam uma história para a professora,
de que havia um homem atrás da catedral. Foi o que bastou para o fogo da mestra
acender a ponto de querer estar ali todos os dias, em busca do que ela deseja
ansiosamente.
Cochonneries
inutiles.
Chegamos
à metade do livro e o conto é O Poço,
que vai nos mostrar a história de um fazendeiro e criador de abelhas africanas
chamado Joaquim Prestes. Ele é rico, tem setenta e cinco anos e decide, um belo
dia, fazer um poço em sua propriedade, tudo para guardar mais dinheiro e não
colocar água encanada, logo perto do pesqueiro, que tinha em abundância. Mesmo com
o frio que fazia no lugar, ele queria que os homens que contratara
trabalhassem, incentivando-os jogando uma caneta e exigindo que a tirassem de
lá. Esse foi o conto que mais me deu raiva, pelo desfecho final que temos. Como
o ser humano consegue ser filho da boa mãe, não é mesmo?
Em
O peru de Natal encontramos Juca
(não sabemos se é o mesmo lá do primeiro conto) querendo comemorar o Natal,
mesmo depois de cinco meses da morte de seu pai e sua mãe achando que isso era
errado. Claro que a lábia dele foi maior e convenceu toda a família. Era coisa
pouca. Só um peru, farofas, arroz e uma cerveja. Podemos observar aqui o quanto
ele presa o bem-estar de sua mãe, que nunca comera de forma digna algo do
Natal, pois ela se contentava com os restos no dia seguinte.
Juca
tem treze anos quando conhece Frederico
Paciência, o típico garoto pelo qual todas as meninas caem matando. Mas depois
de virarem amigos inseparáveis, Frederico o beija com uma vontade nunca antes
vista. Mesmo assustado, ele confessa que os dois se querem muito bem um ao
outro, algo desconfortável, mas que era verdade. Claro que o lado machista dele
agradeceu quando seu amigo foi para o Rio de Janeiro cursar medicina. Aos poucos
eles se afastam. O que causa grande alívio a Juca, que no momento, adora a
companhia das moças.
Estamos
agora na reta final. Nélson estava
tomando uma cerveja no bar. Os que estavam ao seu redor comentavam sobre sua
vida e porque ele tem o braço repuxado, como se tivesse magicamente perdido
parte da pele que o cobria. Claro que ele ficou de saco cheio e se retirou para
casa. Mas ao entrar, nas paredes, encontra notícias de jornal na parede. O que
serão?
E
finalmente chegamos ao fim. Tempo de
camisolinha mostra Juca (novamente esse nome) relembrando os tempos de
criança, vestindo uma camisolinha aos três anos e com cabelos grandes, devido a
uma promessa feita por sua mãe. Ele se vai para Santos com toda a família. Aí acontece
o ritual de amadurecimento. Seus cabelos são cortados, mas ele se recusa a
reconhecer que está crescendo. Aos poucos, ele próprio vai descobrindo meios
para afastar a insegurança e se deixa crescer.
Não
tenho como relatar em muitas palavras o que acontecem nos contos sem acabar
deixando escapar alguns spoilers (juro que tentei, mas pode ter acontecido,
haha). Mas em suma, acabei gostando mais de Contos novos do que imaginava. Podemos observar um amadurecimento
nos escritos (mais em alguns do que em outros) de Mário de Andrade e a forma
com a qual eles são construídos é muito boa. Com exceção do quarto conto, todos
os demais foram bons.
A
diagramação segue simples nesse segundo volume do Box. A capa teve uma mudança
de cores, com predominância do azul. Em suma, vamos ver o que Amar, verbo intransitivo me reserva.
Contos novos
Autor:
Mário de Andrade
Editora:
Novo Século
Número de páginas:
144
Onde comprá-lo:
Box Amazon
Sinopse: Contos novos foi publicado postumamente, em 1947, e narra relatos da maturidade artística de Mário de Andrade. Trata-se de uma coletânea de textos escritos pelo autor ao longo de sua vida, desde os primeiros momentos do Modernismo, passando pelo gênero nacionalista e pela interpretação crítica, em perder suas características artísticas e estéticas.
Oi Pamela!
ResponderExcluirTudo bem? Mario de Andrade é maravilhoso né? Faz alguns anos que li uns contos dele e, meu Deus o cara é insanamente talentoso. Daqueles que fiquei "céus preciso de mais!".
Que bom que gostou da construção dos contos. Eu realmente fiquei bastante curiosa para saber mais sobre essa coletânea, acredito que também vá adorar Contos Novos. É uma pena que não gostou tanto do conto do outro Juca, mas talvez eu goste do quarto conto e acredito que mesmo que não aproveite tanto ainda é algo do Mario de Andrade, não conseguiria detestar.
Beijinhos
www.paraisoliterario.com
Oi Pamela! Gosto muito de Mario de Andrade, e a premissa dos contos me deixou muito curiosa!
ResponderExcluirSenti falta também de uma introdução mais detalhada sobre as inspirações do autor, mas enfim.. Adorei todas as 'sinopses' e estou com muita vontade de ler!
Obrigada por essa dica maravilhosa!
Bjoxx
Oi Pam,
ResponderExcluirOlha contos não são muito minha praia, mas tenho que mudar isso. Principalmente trazendo autores como o Mario de Andrade para minha vida. Não sei em que ordem cronológica da organizado esses contos, talvez por isso você perceba essa amadurecimento neles. Mas sendo o quarto o que você menos gostou pode ser que não tenha sido pensado isso na edição do livro.
Bjs,
Garotas de Papel
Tive um caso de amor com Mario de Andrade no ensino médio e depois não li maios nada dele. Sua resenha e essa edição linda me deixou com saudade e já quero ler novamente.
ResponderExcluirBeijos
Oi, Pam!
ResponderExcluir(nossa Pauliceia Desvairada me deixou louca quando li uns anos atrás haha) Adooooro Contos Novos! É um dos meus livros preferidos do Marião porque traz uma multiplicidade nos contos que não esperava na primeira vez que li. Acho que o meu preferido é o Frederico Paciência, não tem um movito muito específico, mas realmente gostei de como a história foi se construindo. Ah! Tomara que você curta Amar, verbo intransitivo, é um dos livros que mais usava na escola quando dava aula haha
Beijos!
O box parece ser incrível e está com ótimo preço, fiquei bastante interessado. Eu adoro contos e eles são bem variados quanto ao assunto e atmosfera. Adorei a resenha e conhecer um pouquinho do que cada um trata em sua essência, sem entregar maiores detalhes. Dica anotada, afinal é Mário de Andrade.
ResponderExcluir*☆* Atraentemente *☆*
Olá...
ResponderExcluirResenha gigante, mas, muito bem escrita e nada cansativa... Parabéns!!!
Adorei conferir suas impressões, pois, eu amo o autor, já li alguns dos contos dessa edição como O POÇO, O PERU DE NATAL, O LADRÃO, ambos amei de mais!!!
Ainda não tenho essa edição da Novo Século, mas, pretendo comprar logo logo...
Bjo
Olá
ResponderExcluirNão conhecia o livro ainda, pois sou uma leitora de poucos contos, hahah
Mas adoro o autor e com certeza iria gostar do livro também.
Acho que o "Juca" deve ser o mesmo cara, em pontos diferentes de sua vida, senão, porque mais tanta repetição deste nome?
Vícios e Literatura
Olá!!!
ResponderExcluirMário de Andrade é uma leitura mais que recomendada para muitas pessoas, porém eu não sabia deste livro do autor acho que por conta de ler muito pouco livros de contos já que só apelo para eles quando preciso sair de uma ressaca literária.
Achei interessante que mesmo a morte do autor tenha lançado o livro, pois vale muito a pena.
De todos os contos o que me chamou a atenção foi "Tempo de Camisolinha" rsrsrs
lereliterario.blogspot.com
Olá! Acredita que nunca li nada do autor Mário de Andrade? Pois então! Mas lendo sua resenha e suas impressões a respeito fiquei bastante instigada e espero ainda esse ano poder ler seus contos e tirar minhas próprias conclusões (mas espero assim como você gostar, rs). Beijos!
ResponderExcluirOlá!
ResponderExcluirEu fiquei apaixonada nessa edição. Eu amo o autor Mário de Andrade e ainda não conhecia esse livro, então você pode imaginar que agora estou doida para comprar uma cópia para mim também, não é mesmo? Adorei a maneira que você fez a resenha, deu para conhecer muito bem um pouquinho de cada conto.
Beijos.
Hey!
ResponderExcluirEu não conhecia a obra, mas fiquei muito interessada, gosto de contos, de coração, se são póstumos então.... Mario de Andrade é incrível e não há o que discutir. Sua resenha está super completa, me deu uma ideia geral de todos os contos, vou ver se arranjo um exemplar. Dica anotada.
Beijos.