Desde meados da
década de 1960, convencionou-se comemorar o Dia Internacional da
Mulher em 08 de março. Essa data é tida como símbolo de
uma série de reivindicações e conquistas de direitos, sobretudo no âmbito
trabalhista. Entretanto, a escolha dessa data para tal comemoração
frequentemente está associada a equívocos ou a invenções históricas que
precisam ser elucidadas.
Conta-se que, em 8 de
março de 1857, 129 operárias morreram carbonizadas em um incêndio que
ocorrera nas instalações de uma fábrica têxtil na cidade de Nova York. Esse
incêndio teria, supostamente, sido intencional. O proprietário da fábrica, como
forma de repressão extrema às greves e levantes das operárias, teria trancado
suas funcionárias na fábrica e nelas ateado fogo. Essa história, contudo, é
falsa e, obviamente, o 8 de março não está ligado a ela.
Entretanto, houve,
sim, um incêndio em uma fábrica de tecidos em Nova York, mas ele aconteceu no
dia 25 de março de 1911, às 17h da tarde, na Triangle Shirtwaist Company,
e vitimou 146 pessoas, sendo 125 mulheres e 21 homens. A maior parte dos mortos
era constituída de judeus. As causas desse incêndio foram as péssimas
instalações elétricas da fábrica associadas à composição do solo e das
repartições da fábrica e, também, à grande quantidade de tecido presente no
recinto, o que serviu de acelerador para o fogo. A esse cenário trágico
somou-se o agravante de alguns proprietários de fábricas da época, incluindo o da Triangle,
usarem como forma de contenção de motins e greves o artifício de trancar os
funcionários na hora do expediente. No momento em que a Triangle pegou
fogo, as portas estavam trancadas.

Um ano antes dessa
tragédia, em 1910, na cidade de Copenhague, ocorreu o II Congresso
Internacional de Mulheres Socialistas, que foi apoiado pela Internacional
Comunista. Nesse evento, a então membro do Partido Comunista Alemão, Clara Zetkin,
propôs a criação de um Dia Internacional da Mulher, sem, entretanto, estipular
uma data específica. Essa proposta era fruto tanto do feminismo, que ascendia
naquela época, quanto das correntes revolucionárias de Esquerda, como o
comunismo e o anarquismo – inclusive, a anarquista lituana Emma Goldman foi
um dos nomes mais importantes da época.
O incêndio de 1911
viria a ser sugerido, nos EUA, como dia simbólico das mulheres (tal como
sugerido por Clara Zetkin). A maioria dos movimentos reivindicava melhorias nas
condições de trabalho nas fábricas e, por conseguinte, a concessão de direitos
trabalhistas e eleitorais (entre outros) para as mulheres. Vários protestos e
greves já ocorriam na Europa e nos Estados Unidos desde a segunda metade do
século XIX. O movimento feminista e as demais associações de mulheres
capitalizaram essas manifestações, de modo a enquadrá-las, por vezes, à agenda
revolucionária. Foi o que aconteceu em 08 de março de 1917, na Rússia.
Sabemos que a
Revolução Russa ocorreu em 1917, ou melhor, completou-se em outubro de
1917. Pois bem, no dia 08 de março desse ano, as mulheres trabalhadoras do
setor de tecelagem entraram em greve e reivindicaram a ajuda dos operários do
setor de metalurgia. Essa data entrou para a história como um grande feito de
mulheres operárias e também como prenúncio da Revolução Bolchevique, como
acentuou a pesquisadora Eva Alterman Blay em seu artigo intitulado 8
de março: conquistas e controvérsias:
“No século XX, as
mulheres trabalhadoras continuaram a se manifestar em várias partes do mundo:
Nova Iorque, Berlim, Viena (1911); São Petersburgo (1913). Causas e datas
variavam. Em 1915, Alexandra Kollontai organizou uma reunião em Cristiana,
perto de Oslo, contra a guerra. Nesse mesmo ano, Clara Zetkin faz uma
conferência sobre a mulher. Em 8 de março de 1917 (23 de fevereiro no Calendário
Juliano), trabalhadoras russas do setor de tecelagem entraram em greve e
pediram apoio aos metalúrgicos. Para Trotski esta teria sido uma greve
espontânea, não organizada, e teria sido o primeiro momento da
Revolução de Outubro.” [1]
Após a Segunda Guerra
Mundial, o dia 08 de março (em virtude da greve das mulheres russas) começou a
tornar-se aos poucos o símbolo principal de homenagens às mulheres. Ao mês de
março também foi, a partir de então, associado o evento do incêndio em Nova
York, ocorrido no dia 25. A partir dos anos 1960, a data já estava praticamente
consolidada, como apontou Eva Blay:
“Na década de 60,
o 8 de Março foi sendo constantemente escolhido como o dia comemorativo da
mulher e se consagrou nas décadas seguintes. Certamente esta escolha não
ocorreu em consequência do incêndio na Triangle, embora este fato
tenha se somado à sucessão de enormes problemas das trabalhadoras em seus
locais de trabalho, na vida sindical e nas perseguições decorrentes de justas
reivindicações.” [2]
NOTAS:
[1]: BLAY, Eva Alterman. 8 de março:
conquistas e controvérsias. Rev. Estud. Fem., Florianópolis ,
v. 9,n. 2, 2001. pp. 604-605.
[2]: Idem. pp. 605.
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