Sendo comparado
ao aclamado título de Margaret Atwood, O
conto da Aia, Vox chegou às
livrarias no final de 2018 com a proposta de trazer ao leitor uma distopia mais
próxima do que estamos e poderemos viver.
Christina Dalcher
nos apresenta em seu livro um Estados Unidos baseado na fé, onde as mulheres (independente de sua idade) não tem mais direitos, não tem mais liberdade. Mas o mais importante: elas não
têm mais voz. Cem palavras. O contador avisa quando cada uma é dita. Ao chegar em
zero, cada vocábulo a mais é como uma sentença de morte. Uma espécie de choque
é dado e você rezará para nunca mais cometer este pecado.
O foco em Vox é a
vida e Jean McClellan, ex-cientista, mãe de dois meninos (Steven e Jean) e uma
menina (Sonia), casada com Patrick. Desde que tudo mudara no país, ela não pode
mais continuar com sua carreira em neurolinguística. Além disso, não pode ler,
escrever, falar. O fato de pensar em tudo o que tem que falar acaba deixando as
mulheres exaustas. Há tanto de errado que elas queriam contar para o mundo. Mas
sua maior preocupação é com Sonia. A menina não teria um bom desenvolvimento se
não falasse da forma certa, ou seja, desenfreada, igual uma criança normal.
Jean vê sua vida
mudar quando o governo lhe procura justamente por ser especialista em
neurolinguística. Claro que ela não poderia fazer o que sua amiga Jackie fez:
passeatas, eventos contrários ao governo. Mas ela tentaria ao máximo reverter
aquela situação.
Tenho que
confessar que achei magnífica a forma com a qual Christina descreve os
personagens da própria família. Percebemos que ela tem um enorme ranço pelo
marido, porque ele não se compromete em ajudar em absolutamente nada. Ele estava
tão acomodado à situação que achava que tudo aquilo estava correto, assim como
o filho mais velho estava se tornando. Sua postura frente as mulheres estava
sendo construída durante sua adolescência da forma errada, totalmente a favor
do novo sistema instaurado no país.
Hoje, observando
como nosso país e muitos outros do mundo estão caminhando, percebo que tenho
medo de que tudo isso um dia realmente aconteça. A realidade distópica descrita
em Vox amedrontou milhares de leitores pelo mundo. Claro que os acontecimentos
narrados ao final do livro poderiam ter sido muito melhor aprofundados, mas
creio que a autora deixou algo reservado para um novo livro.
O que mais me
chamou a atenção em toda a trama construída é a forma que as mulheres tentam se
comunicar falando tão pouco. Acho que eu, como boa geminiana e professora de
Língua Portuguesa, não conseguiria tais proezas e, provavelmente, iria levar
belos choques várias ao dia. Além disso vemos um texto totalmente escrito de
forma direta e objetiva, mesmo que por algumas vezes passe pelo passado para
que possamos compreender o presente e o que o futuro reservava.
A edição ficou
primorosa. Simples, mas que transmite a essência do que encontraremos dentro:
minimalismo. Não encontrei erros de revisão durante a leitura e achei a diagramação
prazerosa. Em suma, é um livro que deve ser lido não apenas pelo público
feminino, ainda que este seja o maior alvo da obra, mas os homens tem que
começar a abrir os olhos para uma sociedade cada dia mais machista,
preconceituosa e que coloca as mulheres como seres inferiores, ainda que
tenhamos conquistado algumas lutas.
Vox
Autora: Christina Dalcher
Editora: Arqueiro
Número de páginas: 320
Onde comprá-lo: Amazon
Sinopse: O governo decreta que as mulheres só podem falar 100 palavras por dia. A Dra. Jean McClellan está em negação. Ela não acredita que isso esteja acontecendo de verdade. Em pouco tempo, as mulheres também são impedidas de trabalhar e os professores não ensinam mais as meninas a ler e escrever. Antes, cada pessoa falava em média 16 mil palavras por dia, mas agora as mulheres só têm 100 palavras para se fazer ouvir. Lutando por si mesma, sua filha e todas as mulheres silenciadas, Jean vai reivindicar sua voz.
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