Além
de interferir na moda, culinária, Frida Kahlo influenciou também por causa de
sua vida política, motivo pelo qual conheceu e amou Diego Rivera.
Para
mostrar um pouco mais disso, encontramos um grande estudo no blog Marcha
Mundial das Mulheres e recortamos alguns dos trechos que julgamos mais
importantes. Espero que gostem!
Conhecer o interesse político e social de Magdalena
Carmen Frida Kahlo y Calderon Rivera ou simplesmente, Frida Kahlo, não é uma
tarefa árdua. A artista, ao longo de sua vida, registrou inúmeras vezes seus
sentimentos, preocupações sociais e convicções políticas, seja em suas
pinturas, em seu diário, ou ainda, em suas cartas. Além disso, há diversos
relatos de sua participação em ligas clandestinas, como a Liga Jovem Comunista,
em manifestações nas ruas e em reuniões do Partido Comunista Mexicano.
Uma primeira evidência das suas ideias políticas é
sua opção pelo ano de nascimento. A artista nasceu em 06 de julho de 1907 em
Coyoacán, Cidade do México. No entanto, em seu diário, afirma ter nascido em
1910, ano em que a Revolução Mexicana eclode: “1910. – Naci em el cuarto de la
esquina entre Londres y Allende Coyoacán. A la uma de la mañana”. Segundo
Herrera, “uma vez que era filha da década revolucionária, (…) Frida decidiu que
ela e o México moderno haviam nascido no mesmo ano”.
A Revolução foi um movimento popular, sobretudo
anti–latifundiário e anti-imperalista. Emiliano Zapata e Pancho Villa são
conhecidos como dois líderes camponeses importantes da revolta. Para Carlos
Fuentes a Revolução foi também um êxito cultural, ao impulsionar a arte
mexicana, baseada especialmente nas raízes indígenas: “Fue La revelación de
México por México”. E tanto Frida Kahlo como Diego Rivera, frutos do momento
histórico, aderiram a esse momento cultural da década de 20 que tomou conta do
país.
Na Escola Nacional Preparatória, ao ingressar em
1922, irá encontrar “o ambiente propício para desenvolver aquilo que de certa
forma já estava latente desde a sua infância. O empenho pela causa social e a
crença no comunismo parecia estar no seu sangue, correr em suas veias. A
artista mexicana parecia buscar ou ser conduzida para contextos onde a questão
política era o cerne”.
No entanto, em 1925 se afasta da Escola após o
acidente com o bonde que comprometeu sua saúde pelo resto de sua vida. Em 1927,
já recuperada, reencontra suas/seus conhecidas/os e o círculo de amigas/os
envolvidas/os com a política é ampliado: o líder estudantil Germán de Campos, o
exilado comunista cubano Julio Antonio Mella e a fotógrafa ítalo-americana e
também comunista Tina Madotti. A proximidade com Tina será muito rápida, e logo
as duas tornam-se amigas leais. Frida então passa a frequentar as reuniões e
festas semanais que a fotógrafa organizava em sua própria casa, reunindo diversos
artistas, especialmente as/os comunistas.
Em 1928, filia-se ao Partido Comunista, época em
que também conheceu o famoso muralista mexicano Diego Rivera. A pintura, a
preocupação social e a participação no partido eram também pontos comuns entre
os dois. Apaixonados, casam-se em agosto de 1929. O pintor, no entanto não foi
o único amor de Frida. Ao longo de sua vida, a artista teve diversos
relacionamentos tanto com homens quanto com mulheres, consequentes dos seus
círculos políticos e artísticos. Entre suas relações afetivas conhecidas,
destaca-se com o então colega da Preparatória e líder estudantil Alejandro
Gómez Arias, o líder comunista russo Leon Trotski, a cantora mexicana Chavela
Vargas e o fotógrafo Nickolas Muray.
Durante os primeiros anos da década de 1930, Frida
Kahlo acompanhou Diego Rivera nos Estados Unidos. Seu recém-marido havia sido
convidado para a pintura de diversos murais em São Francisco. Ao dar notícias
para suas/seus amigas/os, Frida expressava nas suas cartas seu desgosto pelos “gringos”,
certamente por conta do seu sentimento anti-imperialista.
Outro aspecto da vida de Frida a ser destacado foi
suas percepções do movimento artístico e literário surrealismo, ao ser
considerada pelo próprio André Breton uma
“surrealista autocriada”. A pintora mexicana aproxima-se do movimento e em 1939
expõe na capital francesa, após convite de Breton. Suas pinturas são
seguramente elogiadas por nomes como o de Pablo Picasso. Apesar do sucesso da
exposição e dos seus divertimentos pela cidade, Frida não se sentiu a vontade
em Paris, detestando especialmente a postura vazia das/os artistas locais.
O contexto político também contribuía para Frida
detestar o lugar. Com a derrota legalista na Guerra Civil Espanhola, a mexicana
acompanhou o sofrimento de refúgio dos espanhóis. A falta de acolhimento da
França deixava Kahlo ainda mais intrigada: “Estou enojada com toda essa gente
podre da Europa – todas essas bostas de democracias não valem nada”. Sua
indignação a levou a articular com a ajuda de Diego, a ida de quatrocentos
refugiados para o México.
Apesar do contato direto com o movimento, Frida não
se intitulava uma surrealista. Para Herrera, Frida foi uma descoberta
surrealista e não uma artista surrealista. Em 1952, em carta a Antonio
Rodriguez, a artista esclareceu mais sobre essa questão:
Alguns críticos
tentaram me classificar como surrealista; mas eu não me considero surrealista.
(…) Eu realmente não sei se meus quadros são surrealistas ou não, mas sei que
são a expressão mais sincera de mim mesma. (…) Eu detesto o surrealismo. Pra
mim, parece uma manifestação decadente de arte burguesa. (…) Eu quero ser
digna, com a pintura, do povo a que pertenço e das ideais que me fortalecem.
(…) Eu quero que minha obra seja uma contribuição para a luta das pessoas em
seu esforço pela paz e a liberdade.
Possivelmente “a obra mais surrealista de Frida
seja o diário que ela manteve de meados de 1944 até sua morte”, através de seus
desenhos, montagens de objetos, cores e palavras espalhadas. Em seu diário é
também perceptível sua maior compreensão e dedicação ao marxismo. Várias são
suas manifestações de apoio e crença no horizonte comunista seja em escritos,
seja em pequenas pinturas.
As manifestações de Frida Kahlo a favor do
comunismo em seu diário coincidem também com seu interesse em expressar o
marxismo em suas pinturas. É em 1940, segundo Herrera, que Frida irá “ressaltar
o conteúdo social na arte”. Anos mais tarde, em 1951, fez uma espécie de
autocrítica de suas pinturas: “Tengo mucha inquietud en el asunto de mi
pintura. Sobre todo por transformarla para que sea algo útil al Movimiento
revolucionario comunista […] la única razón real para vivir.”.
Em 1952, Frida, na tentativa de politizar suas
pinturas do gênero naturaleza
muerta, reconhece que: “Por primera vez, en mi vida la pintura mia
trata de ayudar a la línea trazada por el partido. Realismo Revolucionario”.
Dois anos depois pinta uma das suas obras mais famosas, El marxismo dará salud a los enfermos,
em que manifesta “la necessidade de confiar em un ideal político, em vista de
La ineficacia de la medicina moderna”, como aponta Sarah M. Lovre.
Dias antes de falecer, Frida Kahlo, já tomada pela
pneumonia que agravava ainda mais seu estado de saúde, participou de um ato contra
a deposição, patrocinada pela CIA, do presidente esquerdista Jacob Àrben, da
Guatemala. Na cadeira de rodas, a pintora carregava em suas mãos uma placa com
o desenho da pomba e o escrito “Por La Paz”. Gritava também junto aos 10 mil
mexicanas/os presentes: “Gringos asesinos, fuera!”. Sua última aparição pública
em dia 2 de julho de 1954.
O envolvimento com Partido Comunista, a influência
do marxismo em suas obras e a crítica ao modo de vida americano e europeu são
apenas alguns dos aspectos da vida da artista que demonstram sua vida regada da
dimensão política. Há uma infinidade de tantas outras questões que necessitam
ser conhecidas e aprofundadas: seu passado de raízes indígenas e as inúmeras
vezes que expressou sua ligação com seus antepassados, a cultura pré–colombiano
e o povo mexicano; sua quebra no padrão burguês estético da época através de
suas obras, seu corpo e o vestido tehuana, usado e assumido na grande parte da
sua vida; suas pinturas do gêneronaturaleza muerta transformadas em naturalezas vivas; sua ajuda às vítimas
do nazismo e da guerra civil espanhola; sua caminhada docente ao acreditar numa
educação baseada no conhecimento dos saberes das pessoas e na justiça social.
Seu potencial criativo é também relevado em sua
participação no mundo político. Frida Kahlo expôs suas convicções políticas e
quebras de padrões através de uma linguagem irônica e de uma estética de cores
e formas presentes nas suas pinturas e no seu vestuário. Expressões de
contestação marcadas pela subjetividade, irreverência e autenticidade.
O conjunto de todos esses aspectos, somado às suas
outras manifestações, especialmente artísticas, tornaram Kahlo uma mulher e
artista singular. Uma experiência de incômodo e ruptura frente aos modelos
tradicionais de feminilidade e ao sistema econômico hegemônico. Que sua memória
de inspiração e libertação a todas/os nós cesse as narrativas sobre sua vida
construídas pelos interesses patriarcais–capitalistas. Por uma Frida Kahlo
protagonista, criativa, política, autêntica e desobediente!
Achei bem interessante a intervenção e o interesse dela pela política, não tenho muito conhecimento com política, mas achei legal o envolvimento dela e em uma época que as mulheres não era muito ouvidas, adorei conhecer um pouco mais da história e da grande mulher que ela foi.
ResponderExcluirEla realmente foi uma grande mulher, e achei interessante ela ter se envolvido na politica, principalmente porque naquela epoca isso não era coisa de mulher
ResponderExcluirSempre existirá aquelas que tiveram uma ideia, um sonho e lutaram por seus sonhos e objetivos, muito legal saber sobre esta relação dela com a politica.Imagina isso naquela epoca? Realmente um exemplo de coragem!
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